quinta-feira, 17 de julho de 2008

Sobre o feminino

To lendo um livro maravilhoso, porém uma leitura árdua. Tia Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo. Uma coisa interessante de se pensar junto com o existencialismo é sobre o feminino, e é aí que vamos tricotar.
Ainda não terminei de ler, mas alguns pontos me deixaram tão intrigada que mereciam post; post e horas de questionamento. Vamos lá: segundo ela, o feminino é algo CONSTRUÍDO, ou seja, você nasce com o sexo, mas desenvolve características de acordo com suas vivências. Assim, ser uma mulher no Brasil é diferente de ser uma mulher na África, na China , e por aí vai, porque em cada um desses lugares “ser mulher” envolve elementos culturais diferentes.
Com um pé na psicanálise, eu arrisco que para cada mulher, ser mulher tem uma conotação diferente, envolvendo coisas inimagináveis no infinito particular de cada uma. A primeira referência feminina que temos é nossa mãe e deve ser ela a primeira pessoa que nos mostra o que é ser mulher; depois de um tempo, isso fica a cargo de figuras que admiramos, pessoas próximas, daí vem as amigas, etc, etc, etc.
A gente às vezes não se sente tão bonita quanto a mulher que tem aquele baita cabelão loiro, ou aquela cinturinha mínima, às vezes nos depreciamos justamente por não atendermos a um padrão (que sabemos que é ilusório e ditado midiaticamente); às vezes nos sentimos abaixo da linha da feminilidade porque não nos achamos tão bonitas, tão atraentes quanto a fulaninha assim e assada... e isso é o que é ser mulher na nossa sociedade? Dissertando acerca dos comportamentos, ser mulher exige alguns elementos nas variadas idades; quando pequena, deve ser delicada, cercada de brinquedos que reproduzem a realidade doméstica e escravizante (embora algumas mulheres gostem disso), ser meiga, doce, e blá blá blá. Na adolescência, deve despertar sua feminilidade, mas daí (bomba!) outro conceito abstrato demais e subjetivo demais... espera-se que a moça se arrume, bote os tais saltões, fique com um corpo escultural, namore... e quando adulta, que case (por amor, lógico!) e queira engravidar, que ame os filhos, que cuide deles e do marido... que envelheçam juntos e batatinha assada. Agora, e quem desvia da linha do “normal”? Temos inúmeros conceitos subjetivos: “feminino”, “beleza”, “amor”... o que significa um deles pra mim, pode ter significado diferente para vocês, e por aí vai.
Agora, onde a pirada da Anna quer chegar com tudo isso? Em você! Quantas fantasias construímos sob as ilusões sociais acerca da mulher? Quanto nos punimos por não correspondermos à mulher que gostaríamos de ser, e gostaríamos de sê-la porque esperam que sejamos assim, que acabemos agindo com o esperado, o normal, o que se reproduz de geração em geração.
Pensemos quanta merda uma mulher que não quer engravidar, ter filhos e tals tem que ouvir devido a SUA decisão, uma vez que a vida é dela! E a mulher que se divorcia, o quanto não é condenada por não insistir em um casamento – que por vezes é fracassado e a faz sofrer? E aquelas que não querem casar, as que querem sexo casual, as que são mães solteiras, as desviantes do que a sociedade prega como normal? As que querem manter os quilos a mais ou a menos, o cabelo sem alisar, os peitos pequenos...
Por mais bem-resolvida que uma pessoa seja, é impossível passar ilesa sob essa pressão externa (todo mundo quer ser amado e aceito, princípio universal); portanto, alguns se afetam por meio do corpo, da culpa, dos sentimentos de inferioridade ou se comparando com outras pessoas (pra se depreciar, é... tem gente que se acostuma a fazer isso); alguns adoecem de males físicos, outros dos psíquicos.
Acho que a conclusão de tudo isso é que cada mulher deveria olhar pra si, no meio de uma grande turbulência de sentimentos e refletir: O QUE DISSO TUDO ME SERVE, ME É ÚTIL E O QUE EU DEVO JOGAR FORA?
Até que ponto cada coisa dessas é saudável, não se torna invasiva e atende realmente às necessidades da mulher, do que é ser mulher para aquela mulher em particular; o que é útil, humano, real, e faz bem. Afinal, não estamos nessa vida para os outros.

9 comentários:

Anônimo disse...

Na infância e adolescência (início) eu idealizava crescer e me casar. Perdia horas pensando na idade certa de ter filhos, pois, claro, eu estaria casada já...
Quando cresci descobri que pensava diferente sobre ser mulher. Sempre fui muito criticada pela minha mãe, que tem cabeça fechada, é retrógrada, sempre me colocando pra baixo com os comentários dela, mas ainda assim resolvi arriscar e seguir a linha que achei melhor pra mim. já morei junto sem casar, já apanhei e mandei ele embora, já fiz coisas das quals não me orgulho, já teve época que usei da minha aparência e sensualidade pra atrair as pessoas, até que descobrir que isso me tornava uma pessoa vazia.
Hoje sou uma MULHER adulta, independente, crio sozinha minha filha sem ajuda financeira de pai drogado, moro sozinha com ela em um apezinho, tenho um bom emprego com um bom salário, mesmo tendo crescido em uma família com problemas financeiros onde não me foi possível estudar( Sim, o dinheiro conta bastante pros estudos, não pude pagar bons colégios, logo estudei naquela porcaria que não ensina nada mas que te passa de ano quando vc paga, logo nunca poderia passar em uma faculdade pública, ainda mais tendo que trabalhar nas horas vagas.. cursos então..necas), só não tenho carro mas isso é futilidade pra mim e por mais que minha mãe continue me criticando (e muitas outras pessoas me julgaram em todos esses anos) eu amo ser a MULHER que me tornei.

Anna Oh! disse...

Acho importante isso, construir sua vida a partir das prórprias vontades... eh diferente de ser arrogante ou ignorar todas as opiniões... eh simplesmente saber o q t faz bem, saber ouvir as coisas q vem d dentro d vc. A gente carece de exemplos assim, pq hj em dia damos tanta importância pra opinião de terceiros q esquecemos das nossas vontades e necessidades. Seu comentário me fez refletir...
Bjos!

jurubeba disse...

Ja tenho um texto pronto sobre Charlotte Casiraghi, sei tudo sobre a família real de Mônaco.

Quero ser colunista.

Mandei um email p. vcs agora pouco, com meu "curriculum"..

=)

Lenita

Anônimo disse...

Obrigada pela visita.
não tenho pretensão de parecer a mãe perfeita pra minha filha nem de longe. Des de sempre explico pra ela que tenho defeitos, não sei tudo, cometo erros..as vezes converso com ela como se tivéssemos a mesma idade e claaaaaaro que vou contar todos esses casos bizarros que aconteceram na minha vida, quero que ela seja minha melhor amiga e sinta que pode confiar em mim em qualquer momento, não quero esconder nem sobre minha sexualidade e já até me imagino fazendo piadinha sobre as amiguinhas dela da escola...rs.
Sabe pq resolvi postar esse caso do ator pornô ontem?? Um amigo meu me mandou uns videozinhos por email pra eu mandar pro meu sexy nerd, pra ficar deixando ele maluco em casa sabe, e ele ficou louco com um video que eu não tinha chegado a ver, mas enviei pra ele mesmo assim. Quando fui assistir quem era o ator no videozinho??? O próprio!! Aí tive que resgatar essa história do fundo do baú!!!

Bjs!!

Fuego disse...

Seus posts estão cada vez melhor, Anna!!
Então eu faço parte dessas mulheres que são vistas como monstros pela sociedade pq eu naum quero ter filhos!!
Eu naum suporto criança, eu vou ter filho só pq os outros axam bonitinho?? Afff
Mas as pessoas pensam assim!
Q filhos/casamento são uma OBRIGAÇÃO da mulher!! Assim como os serviços domésticos!!
Eu fico PUTA com isso, meu...
Quais os brinquedos de meninos??
Bola, pião, carrinho...
E das meninas?? Boneca, vassourinha, ferrinho de passar, pia, fogãozinho, etc etc etc...

REVOLTANTE!!!

E eu concordo q talvez o meio q determine o que é ser mulher...
em partes!

Anônimo disse...

Parabéns
Amei o blog!
Beijos

P.S: Simone Beauvoir é ótima, outra escritora que também é muito boa é a Lou Salomé.

P.S 2: Posso linkar?

Andreas Ribeiro disse...

Os brinquedos de meninas são depreciativos? ou são depreciativos porque são de menina?

Ser mulher fora dos padrões, sozinha, independente bla bla bla virou cult ou é impressão minha?

Pra mim não são nada demais, nem nada de menos...

Beijos

Marie Curie disse...

"quando estamos em minoria e quando exercemos a coragem, Quando estamos em maioria, é que exercitamos a tolerância"

E tenho dito!

Anna Oh! disse...

Não depreciativos, xuxu... eles simplesmente ajudam a fazer com que sejam reproduzidos os papéis sociais tradicionais dentro da familia nuclear; porém, existem ooooutros papéis sociais q a mulher pode desempenhar, não se restringindo à vida doméstica por exemplo.
Bom, aparentemente ser sozinha e independente pode parecer cult, assim como pareeece q o homossexualismo tá senso aceito na sociedade e blá blá blá. Por se tratar d uma sociedade de consumo, creio q mto dessa "aceitação" seja pra abrir portas pra um mercado consumidor, por exemplo. Agora, aceitação d verdade eu duvido mto. As pessoas falam, apontam, criticam...