A "pessoa"

Sempre existe alguém que é seu confidente, cúmplice, companheiro de buteco, fossa, de choradeira ou de risadas que fazem sua barriga doer de tanto rir! Aquele alguém que você deixa falar por horas e horas e que, por sua vez, te escuta por tempo indeterminado. Sempre existe aquela pessoa que pode te mandar calar a boca ou desembuchar logo a prosa. É aquele alguém que gasta o latim e a paciência contigo, ainda que saiba que você não pretende escutá-lo. Sempre existe essa pessoa, que é a “sua pessoa”...
Isso aparece no seriado Grey’s Anatomy, em que a Meredith é a pessoa da Cristina, e a Cristina, da Meredith; a fala que define isso é mais ou menos assim: “se eu matasse alguém, seria pra ela que eu contaria, e ela quem me ajudaria a enterrar o corpo!”
Pois bem, quem te ajudaria a enterrar os mortos? A quem você confessaria um crime?
Pra sua pessoa!
São “as pessoas” das “pessoas” que abuuuuusam das ligações de madrugada (pra contar qualquer bobeira), das SMS ultra-rápidas sobre um fato inusitado que aconteceu, dos bilhetes passados em sala de aula, dos gritinhos chiliquentos quando alguma coisa MUITO boa acontece pra alguma das duas pessoas... é, geralmente “as pessoas” fazem folia com a felicidade da “pessoa”. As frases da “pessoa” pra “pessoa” vão desde a clássica “meniiiiiiina, você nem sabe/ deixa eu te contar/ aiiiiiii precisamos fofocar!(...)” – e variantes diversas – até “você precisa assistir tal filme/você TEM QUE assistir tal filme (...)” – e variantes diversos que apontam que: a) ela é a primeira a saber TUDO; b) você sempre sabe um filme/livro/lugar que essa pessoa iria gostar MUITO! Daí que é essa pessoa que te acompanha nas incríveis expedições atrás da calça que te sirva, que vai contigo testar maquiagem em lojas, que bebe tanto quanto você, e ambas se carregam por aí...
Daí que, às vezes, de tanta proximidade, a distância aparece. Talvez porque a amizade é algo que deve crescer, evoluir e acompanhar o ritmo das “pessoas” (das duas!) e nem sempre isso acontece... Ás vezes também, ser “a pessoa” de alguém é algo muito pesado pra que se sustente com o passar do tempo e com as mudanças.
Nem todo mundo agüenta enterrar os mortos e guardar os segredos, embora uma das melhores sensações do mundo seja a de poder contar sempre com um “alguém”. Se existe uma amizade assim, que ela seja mantida... porque não se desiste de um amigo.
Caso a sua “pessoa” não esteja mais por aí, que pelo menos tenhamos alguém que possa ouvir o segredo, outro alguém que possa guardá-lo, uma outra pessoa que saiba da morte, mas não que você matou, outra que te ajude a arrastar um pesado pacote até um buraco bem fundo, mas que, principalmente, você mesmo faça o serviço completo, não o deixe a cargo de qualquer pessoa (porque qualquer pessoa não é “a pessoa”).