É engraçado que quando você é um colunista ausente de um blog, vira e mexe na sua vida aparecem sugestões inegáveis de serem descritas no próprio instrumento de catarse. Conversando com uma senhora estrangeira, de 40 e poucos anos, ela me relatou sobre a crise familiar que passava no momento. Questionou a princípio se eu tinha conhecimento de algum tipo de doença mental que pudesse ser diagnosticada a sua irmã. Esta, mostrou-se ultimamente muito agressiva com sua mãe (senhora já com mais de 70 anos). Durante o papo ela me contava que a irmã (também na faixa dos 40) sempre tivera um "pé atrás" com a mãe, sendo rude e carente, já com o pai, é extremamente amorosa e ergue-o num pedestal, sempre agregando a ele adjetivos da ordem Divina. Todos os outros irmãos acham aquele posicionamento demasiadamente ofensivo aos costumes e cultura daquela família, a qual segue uma linha machista, porém matriarcal. A mãe, por mais servente que seja ao pai, deve ter a condição mais próxima a Deus, e o filho deve ceder a ela o total amor incondicional.
Contudo, a filha queixa-se de um ódio mortal pela Mãe, justificando com argumentos infundados e alucinatórios, o que fazem todos crerem que ela possua um distúrbio mental. No decorrer da conversa a senhora que contava o seu drama familiar, ressaltava sempre o contraste nos sentimentos da irmã em relação ao amor exacerbado pelo Pai, estranhando este discurso de amor por sugerir algo próximo a Paixão, e não do carinho de filha-Pai. Comecei a refletir junto a ela se ela não verbalizasse essas coisas justamente para competir o pai com a mãe, sendo mais carinhosa, querendo-o só para ela. A senhora me confirmou a hipótese, dizendo perceber sempre uma disputa entre as duas, tanto em conflitos quanto à atenção do pai.
Esta história me fez lembrar o livro que no momento estava lendo, o qual aconselho a todas as leitoras apreciadoras da literatura russa e também da temática Edípica filha-Pai. O livro é do escritor Fiódor Dostoiéviski, chamado Niétotchka Niezvânova. O conto trata da história do desenvolvimento de uma pobre garota pobre, que além de viver num drama social, convive com um constante conflito entre ódio pela mãe e amor incondicional pelo pai (padrasto), um artista talentoso porém frustrado, que justifica não ter alcançado a fama pela frustração em seu casamento. O livro precede algumas discussões de Freud acerca da Psicanálise, por isso nos faz refletir como a temática de Édipo Rei, circunda gerações e nos coloca de frente com a gênese do Amor e suas ramificações em nossa vida.
Vale como referência de leitura e de discussão: para vocês mulheres que já passaram por terapia, ou refletem constantemente sobre as influências da sua relação com seus pais na infância na própria dinâmica atual de suas vidas.
PS: vale ressaltar que eu ainda não acabei de ler o livro, mas já vejo outros assuntos no próprio a serem estilhaçados no nosso querido divã.
19 comentários:
poxa me interessei pelo livro..
beijO ^^
Acho que a rivalidade entre mãe e filha se arrasta durante toda a vida. Sabe, um pouquinho sempre tem... daí o negócio é: quando é uma simples birra feminina e qdo a coisa é desproporcional, de uma assumir o papel da outra e buscar não só o pai, mas a atenção toda para si. Nas brigas entre mãe e filha vemos esse tipo de coisa... às vezes sutil, às vezes escancarada. Sempre tem.
Acho q tb serve pra refletirmos o qto a mãe não é perfeita e o qto nós, filhas, tb não somos. Refletir sobre quais elementos delas nos constituem intrinsecamente e quais rejeitamos tanto q fazem parte de nós.
Viajei legal, mas ó... 4 anos de análise... hauaahauahau, um dia eu entendo.
Muito legal a dica desse livro! vou te contar que presencio essa situação na casa de amigas que não se dão nada bem com a mãe e são apaixonadas pelo pai, mesmo o pai sendo relapso, e ter cometidos erros como trair a mãe ou ser alcoólatra... ja tinha parado pra pensar o porque disso, mesmo porque esse fenômeno se é que pode ser chamado assim si repeti muito entre minhas amigas enquanto aqui em casa sou muito mais apegada a minha mãe e tenho uma relação que pode ser chama de "legal" com meu pai....
beijos
Nossa, nem consigo me enxergar tendo tal relação de ódio e rivalidade com minha mãe...ela sempre foi meu apoio, meu amor, até ficar doente e falecer...Já com o meu pai a coisa ocorre de maneira diferente, sempre houve e haverá determinada distância e mágoa...
Boa dica de leitura, se tratando de Dostoiévski vale a pena ler...é um dos meus escritores prediletos.
Muito bom o post e a temática em questão!
;)
Gostei da dica do livro, ja anotei e vou comprar.
;)
Beijos.
Quanta crise de emoções e sentimentos nessa história. Nunca passei por terapia mas sempre reflito sobre tudo a minha volta, esse livro, como você o descreve deve ser maravilhoso. Na primeira oportunidade vou comprá-lo. Beijos
Gostei da dica. Eu acho essa parte da psicanálise e até da psicologia muito legal, o estudo do nosso passado pelos nossos pais e nossa infância. Hoje mesmo eu estava conversando com a minha irmã sobre isso, como quando eu era criança amava mais o meu pai (se é que isso é possível rs) e como hoje eu equilibrei isso... Será que eu tenho umpouco desses complexos, ou tive? Fiquei curiosa para ler esse livro. :P
Obrigada pelo meme!
Tenho um selo pra vc's no meu blog
;)
bjoo
Que bacana vc comentar sobre o livro...
Eu gostei do assunto, mais não sei se daria conta de ler, isso por não ter muito a ver com a minha área, mas parece ser uma ótima leitura, bem direcionada.
Tem post novo lá no Outras Estórias.
Passa lá pra dar uma conferida.
http://aindamaisestorias.blogspot.com
Vida sempre cercada de mistérios, criados pela nossa mente, tão poderosa que cria, inventa e desinventa sentimentos, reações loucuras, bjs, fiquei como vontade de ler o livro, bjs.
Na mente humana há mto mais coisas do que explica nossa vã filosofia rsrs
Bjoo
Mto interessante e bem escrito o blog,viu? Vou pôr nos favoritos do meu!
Eu tenho uma relação edipiana (ou seria o complexo de electra?) com o meu pai... Mas nada absurdo a ponto de ter ódio constante da minha mãe! rsrs
Adoro esse tema! Acho super interessante... Mas às vezes as próprias mães competem com as filhas. Minha mãe adooooooora competir comigo, por exemplo. Ou seja, minha mãe foi uma das propulsoras do meu complexo de Electra porque, por mais que a gente não queira competir, qndo percebemos que existe a competição tb não nos fazemos de rogado, não é?
Bjkss
O que me chamou a atenção foi o fato da mulher estar na faixa dos 40 anos. Pq, na minha adolescencia eu vivi um pouco isso, implicava demais com a minha mãe e idolatrava meu pai. Sempre que eles estavam brigando eu metia o bedelho para dizer que a louca e errada era a minha mãe e que certo era meu pai. Mas no meu caso era coisa de adolescente essa implicância, como vejo outros casos parecidos que na fase adulta esta implicância vai embora. creio que no caso citado deve haver algo mais complexo que explique.
O livro parece interessante, com uma ressalva, não gostei da parte que o cara justifica não ter fama em razão do casamento, parece coisa de recalcado que sempre procura algo/alguém para por a culpa das próprias derrotas. Mas dizem que isso é mais comum do que se imagina né?!
Bj
Olá, eu já li crime e castigo do mesmo autor.
Deve ter portanto o mesmo estilo.
Anotado, vai para a lista de leitura.
Um beijo
Dostoievski é O cara!
Bjooooooo!!!!!
Gostei da parte q a mulher é o ser mais proximo de Deus e tals (não nego meu coração pagão!).
Bom, isso é uma coisa totalmente fora da minha realidade, já q eu me dava um quaquilhão de vezes melhor com minha mãe do que me dou com meu pai... tanto q eu nunca pensei num complexo de Édipo as avessas!!
Nunca me toquei q isso deveria existir!!
Bjus!
Hmmmm, interessante.... Tem gente que fica ligada ao Complexo pro resto da vida, sem tentar resolver os entraves...
ERRATA: pessoal, adicionei um detalhe na descriçao do livro, do qual fui lembrado por um leitor:
o Pai pelo qual Niétotchka dedica todo seu amor é na verdade seu Padrasto. (:
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